Atrações com animais

Turismo silvestre: o que você precisa saber sobre atrações com animais

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Uma das coisas que eu mais gosto quando viajo é poder conhecer lugares com passeios diferentes. Afinal, a viagem é uma busca por novas experiências e nada melhor do que fazer uma atividade que você não faria no lugar de onde veio. Por isso, tanta gente procura atrações turísticas que tenham algum tipo de interação com animais selvagens — alguns sem nem imaginar os problemas que existem por trás dessa escolha.

De acordo com o relatório Check-out da Crueldade, estima-se que as atrações de vida silvestre constituam de 20% a 40% do turismo global. Aproximadamente 110 milhões de pessoas visitam atrações turísticas que envolvem animais todos os anos, o que movimenta bilhões de dólares. E, sim, existem instituições que se preocupam com o bem-estar e preservação das espécies, muitas vezes resgatadas. Contudo, elas são minoria.

O problema do turismo

Muitos lugares promovem tours em zoológicos, visita a aquários, espectáculos com animais e diversas outras atividades do tipo, tudo para o entretenimento do viajante. O que nem todos sabem, porém, é que várias dessas atrações são administradas de forma irresponsável e com crueldade. Segundo aquele mesmo relatório, ao menos 550 mil animais sofrem com o turismo pelo mundo e a interação por si só já pode ser prejudicial.

Ok, boa parte das pessoas que fazem esses passeios não possuem maldade no coração. Como eu disse, nem todos conhecem os impactos negativos e os abusos que existem nesse meio — eu mesma só parei para pensar nisso faz poucos anos. A maioria é motivada pelo amor aos animais e usa o turismo para estar mais próximo dos bichinhos. Mas é importante lembrar que tocar, montar, nadar ou tirar fotos com eles não são a melhor forma de demonstrar esse carinho.

Passeio em elefantes na Tailândia
Passeio em elefantes na Tailândia | Foto: ONG Proteção Animal Mundial

O contato forçado pode trazer inúmeras questões, como levar os animais a se sentirem dependentes da alimentação dada por humanos e disputarem violentamente por comida, por exemplo. Além disso, algumas atividades são movidas pela negligência e exploração dos bichos. Há empresas que utilizam até sedativos para amansar determinadas espécies durante a interação com o turista. Isso sem falar no comércio ilegal da vida selvagem, que costuma afastar os filhotes de suas mães.

Enfim, esses são só alguns dos problemas que atrações irresponsáveis podem provocar e, infelizmente, ocorrem bem mais do que imaginamos. Muitos bichinhos são colocados em instalações inapropriadas para o seu tamanho, privados de assistência veterinária, alimentados de forma inadequada ou até deixados sem comida. Por conta disso, a maioria não vive tanto tempo quanto viveria na natureza. Muito triste, né?

As atrações mais cruéis

Vou citar o relatório Check-out da Crueldade de novo, pois é um material muito bem feito. O estudo foi realizado pela Wildlife Conservation Research Unit (WildCRU), da Universidade de Oxford, e publicado em parceria com a ONG Proteção Animal Mundial, em 2015. Apesar de não ser tão recente, é tudo muito atual e, por isso, acho interessante levarmos o seu conteúdo em consideração. Um dos dados que ele traz é a lista com as dez atividades turísticas mais cruéis pelo mundo. 

Os passeios em elefantes na Tailândia, as fotos com tigres na Ásia, as caminhadas com leões no Sul da África, as apresentações de golfinhos nos Estados Unidos e a possibilidade de segurar tartarugas marinhas nas Ilhas Cayman são algumas das práticas mais prejudiciais destacadas no documento. Mas diversas espécies são tratadas como objetos no mundo todo e muito se engana quem pensa que o Brasil sai ileso desse cenário.

Um outro relatório, também publicado pela ONG Proteção Animal Mundial, analisou 18 empresas turísticas em Manaus, no Amazonas. A pesquisa, de 2017, mostrou que 94% das excursões investigadas permitiam o contato direto com animais silvestres e que 77% delas incentivavam essa interação. Segundo o estudo, o primeiro lugar de atração mais cruel ficou com o nado com botos-cor-de-rosa, seguido das selfies com a preguiça de três dedos, jacaretinga e sucuri-verde.

Nado com botos-cor-de-rosa
Muitos botos possuem cicatrizes por conta do contato humano | Foto: ONG Proteção Animal Mundial

Como você já deve imaginar, os animais eram tocados a todo momento e submetidos a períodos de exaustão para atender os turistas. Alguns foram, inclusive, retirados de seu habitat natural e outros amordaçados para posar junto aos visitantes. E, apesar de já ter passado seis anos desde que a pesquisa foi divulgada, essa ainda é a realidade da maioria das atrações turísticas.

Não dá para negar: é tudo muito horrível quando a gente analisa a situação. Se quiser entender melhor essa problemática, recomendo a leitura dessa reportagem especial do National Geographic. Ela fala detalhadamente sobre o sofrimento de animais selvagens em cidades portuárias da floresta Amazônica, os quais são “vítimas dos ‘selfies safáris’”.

Olhando pelo lado bom, ainda existem lugares que possuem impacto positivo na vida dos animais. Segundo a WildCRU e a ONG Proteção Animal Mundial, eles representam 25% das atrações com vida silvestre e não promovem performances e nem contato direto com as espécies. Resta ao turista aprender a reconhecer quais são essas instituições e deixar de financiar empresas que promovem os abusos mencionados.

Como ser um turista responsável

Agora que você já sabe como funciona a maioria dessas atividades turísticas, chegou o momento de entender como você pode ser um turista mais responsável. Para isso, você precisa fazer basicamente três coisas:

1. Pesquisar. Saber como os lugares turísticos trabalham é essencial, principalmente se você pretende visitá-los. Tente descobrir se os animais são bem tratados, se foram resgatados e se há atividades que envolvem algum tipo de interação direta. O ideal é que eles sejam observados na natureza e com certa distância, respeitando o espaço e a rotina deles. No caso de dúvidas, entre em contato com a instituição.

2. Focar nos 25%. Lembra que ainda existem lugares com trabalhos que impactam positivamente os animais? Dê mais atenção a eles. Áreas de proteção ambiental, santuários e parques nacionais costumam fazer parte dessa lista, desde que o visitante não interfira na vida selvagem. Alguns exemplos de instituições bem conhecidas no Brasil e que tentam contribuir para a causa são a Associação Mico-Leão Dourado, o Instituto Arara Azul e o Parque das Aves.

Parque das aves
O Parque das Aves acolhe aves resgatadas do tráfico e maus tratos | Foto: site Parque das Aves

3. Compartilhar o seu conhecimento com outras pessoas. Sou jornalista e garanto que esse é o melhor meio de espalhar a informação. Inclusive, meu TCC foi sobre a responsabilidade ética na cobertura de atrações turísticas envolvendo animais (se interessar, leia aqui). Quanto mais gente souber a realidade por trás dessas atrações, mais provável é que esse cenário mude algum dia. E isso vale para qualquer outra atividade antiética, sobretudo no meio turístico.

É óbvio que nada vai ser resolvido imediatamente, mas quanto menos demanda existir, menos a indústria investirá neste tipo de atividade. Cabe a nós, viajantes, optarmos por opções de lazer que não envolvam qualquer exploração.

Deixo aqui três textos de blogs que eu acompanho (e sou fã) para você ler mais sobre o assunto: Janelas Abertas, Carpe Mundi e 360 Meridianos. Ah, também recomendo esse guia sobre como se tornar um turista amigo dos animais.

Imagem de capa: Reprodução/Canva

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